Entre morros e vento norte que norteiam e
criam histórias que recriam a nossa realidade, surgem em nossa época,
construções de um mundo oco, vazio e tão superficial que pode ser desconstruído
na primeira ventania. Movido por textos falaciosos, retóricas românticas,
aventureiras, Clarices e tomates, velhos e novos, outrossim, atuais; Sim! Eis
que surge a revolta. No absurdo de dizer nada e tudo ao mesmo tempo, comunicar
o atual com frases bem estruturadas, palavras pomposas, elegantes e bonitinhas
– talvez – trago a tona, uma séria irritabilidade com o fato de que a realidade
seja um construto social. Ao pensar na Nova
Esquerda que criou uma “subcultura acadêmica auto-perpetuante que
tipicamente ignora críticas racionais de fora”, me remete ao caso Sokal.
No artigo publicado na edição de Verão/Outono
de 1996 (anexo 2) no jornal pós-moderno Social
Text, intitulado “Transgredindo as Fronteiras: Rumo a uma Hermenêutica
Transformativa da Gravidade Quântica”, um artigo com 109 notas de rodapé q
combinam termos acadêmicos com retórica sociopolítica (doze páginas com
referências bibliográficas), propõe que a gravidade quântica tem implicações
políticas progressivas, e que o campo morfogenético é uma teoria inovadora da
gravidade quântica. O notável professor de Física da Universidade de Nova
Iorque, Alan Sokal, declarou que “está tornando crescentemente aparente que a
realidade física é fundamentalmente “uma construção social e lingüística”.
Afirmou também que, porque a pesquisa científica é “inerentemente carregada de
teorias e autorreferencial”, ela “não pode afirmar um status epistemológico
privilegiado com narrativas contra-hegemônicas emanadas de comunidades
dissidentes ou marginalizadas” e que, portanto, uma “ciência libertadora”
fornece poderoso suporte intelectual para o projeto político progressivo.
O artigo foi uma farsa criada, de acordo com
Sokal, para ver se realmente “um jornal bastante renomado de estudos culturais
publicaria um artigo sem sentido algum apenas se a sua introdução soasse como
boa, testando, também, os preconceitos ideológicos dos editores”. Sokal afirmou que se os editores fossem
intelectualmente competentes, teriam reconhecido logo no primeiro parágrafo que
a tese era, na verdade, uma paródia. O físico disse q ele foi “ convencido de
que havia um declínio aparente nos graus de rigor científico em certos setores
de ciências humanas acadêmicas nos Estados Unidos”. O hoax ou a farsa, foi a sua forma de chamar atenção para isso. Além
de tudo isso, veja algumas palavras ditas pelo mesmo:
“ Através deste artigo, emprego conceitos matemáticos e científicos de
maneiras que poucos cientistas e matemáticos poderiam levar a sério. Por
exemplo, eu sugiro que o “campo morfogenético” –uma ideia bizarra da Nova Era
que surgiu com Rupert Sheldrake – constitiu uma vanguarda para a teoria da
gravidade quântica. Essa conexão é invenção pura, mesmo que Sheldrake não faça
tais alegações. Eu afirmo que as especulações psicanalíticas de Lacan foram
confirmadas por um trabalho recente no campo da teoria quântica. Até mesmo
leitores leigos reconheceriam que o que
eu falei não faz sentido algum. Em suma, eu escrevi intencionalmente esse
artigo de forma que qualquer físico ou matemático competente iria perceber que
era besteira. Evidentemente, os editores do Social Text se sentiram
confortáveis pela publicação de um artigo de física quântica sem consultar
ninguém que conhecesse o assunto.”
Acima de tudo, no entanto, a farsa de Sokal
demonstra como estamos dispostos a sermos enganados por assuntos que
acreditamos firmemente. Temos mais tendências de sermos críticos em relação a
artigos que atacam a nossa posição, mas sucumbimos aqueles que a apóiam. Há um
termo específico para isso, viés de confirmação, e atinge tanto os cientistas
sociais e de humanidades quanto os de exatas e da natureza.
(Anexo 1) http://claudemirpereira.com.br/2015/03/uma-rara-e-emocionante-experiencia-em-walachai-por-jorge-cunha/#ixzz3iyuJn9GY
(Anexo 2) http://www.physics.nyu.edu/sokal/transgress_v2_noafterword.pdf
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