sexta-feira, 16 de junho de 2017

Como assim?



Entre morros e vento norte que norteiam e criam histórias que recriam a nossa realidade, surgem em nossa época, construções de um mundo oco, vazio e tão superficial que pode ser desconstruído na primeira ventania. Movido por textos falaciosos, retóricas românticas, aventureiras, Clarices e tomates, velhos e novos, outrossim, atuais; Sim! Eis que surge a revolta. No absurdo de dizer nada e tudo ao mesmo tempo, comunicar o atual com frases bem estruturadas, palavras pomposas, elegantes e bonitinhas – talvez – trago a tona, uma séria irritabilidade com o fato de que a realidade seja um construto social. Ao pensar na Nova Esquerda que criou uma “subcultura acadêmica auto-perpetuante que tipicamente ignora críticas racionais de fora”, me remete ao caso Sokal.
No artigo publicado na edição de Verão/Outono de 1996 (anexo 2) no jornal pós-moderno Social Text, intitulado “Transgredindo as Fronteiras: Rumo a uma Hermenêutica Transformativa da Gravidade Quântica”, um artigo com 109 notas de rodapé q combinam termos acadêmicos com retórica sociopolítica (doze páginas com referências bibliográficas), propõe que a gravidade quântica tem implicações políticas progressivas, e que o campo morfogenético é uma teoria inovadora da gravidade quântica. O notável professor de Física da Universidade de Nova Iorque, Alan Sokal, declarou que “está tornando crescentemente aparente que a realidade física é fundamentalmente “uma construção social e lingüística”. Afirmou também que, porque a pesquisa científica é “inerentemente carregada de teorias e autorreferencial”, ela “não pode afirmar um status epistemológico privilegiado com narrativas contra-hegemônicas emanadas de comunidades dissidentes ou marginalizadas” e que, portanto, uma “ciência libertadora” fornece poderoso suporte intelectual para o projeto político progressivo.
O artigo foi uma farsa criada, de acordo com Sokal, para ver se realmente “um jornal bastante renomado de estudos culturais publicaria um artigo sem sentido algum apenas se a sua introdução soasse como boa, testando, também, os preconceitos ideológicos dos editores”.  Sokal afirmou que se os editores fossem intelectualmente competentes, teriam reconhecido logo no primeiro parágrafo que a tese era, na verdade, uma paródia. O físico disse q ele foi “ convencido de que havia um declínio aparente nos graus de rigor científico em certos setores de ciências humanas acadêmicas nos Estados Unidos”. O hoax ou a farsa, foi a sua forma de chamar atenção para isso. Além de tudo isso, veja algumas palavras ditas pelo mesmo:
“ Através deste artigo, emprego conceitos matemáticos e científicos de maneiras que poucos cientistas e matemáticos poderiam levar a sério. Por exemplo, eu sugiro que o “campo morfogenético” –uma ideia bizarra da Nova Era que surgiu com Rupert Sheldrake – constitiu uma vanguarda para a teoria da gravidade quântica. Essa conexão é invenção pura, mesmo que Sheldrake não faça tais alegações. Eu afirmo que as especulações psicanalíticas de Lacan foram confirmadas por um trabalho recente no campo da teoria quântica. Até mesmo leitores leigos reconheceriam  que o que eu falei não faz sentido algum. Em suma, eu escrevi intencionalmente esse artigo de forma que qualquer físico ou matemático competente iria perceber que era besteira. Evidentemente, os editores do Social Text se sentiram confortáveis pela publicação de um artigo de física quântica sem consultar ninguém que conhecesse o assunto.”
Acima de tudo, no entanto, a farsa de Sokal demonstra como estamos dispostos a sermos enganados por assuntos que acreditamos firmemente. Temos mais tendências de sermos críticos em relação a artigos que atacam a nossa posição, mas sucumbimos aqueles que a apóiam. Há um termo específico para isso, viés de confirmação, e atinge tanto os cientistas sociais e de humanidades quanto os de exatas e da natureza.


(Anexo 1) http://claudemirpereira.com.br/2015/03/uma-rara-e-emocionante-experiencia-em-walachai-por-jorge-cunha/#ixzz3iyuJn9GY

(Anexo 2) http://www.physics.nyu.edu/sokal/transgress_v2_noafterword.pdf


            

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