quinta-feira, 9 de março de 2023

O Abacate


Sabe aqueles momentos de abstinência de nossas vontades para a alegria do outro. Pois então...


Existem momentos inesquecíveis em nossas vidas. Tive um desses momentos. O momento do abacate. Aqueles raspados na casca com açúcar cristal e olhos entreabertos. Após me deliciar com algumas colheres do dito, senti a saciedade. Sem deixar ela perceber, meditei na ideia de levá-lo ao lixo. Com 2 ou 3 piscadelas, olhei para ela, estava observando o meu abacate e tive uma sensação de certeza; Só tinha 1 abacate e ela estava de olho no meu. Sem titubear, levantei o abacate com a colher e fiz aquele sinal sem voz; Quer? Ela disse: Não!

Refiz a pergunta exclamando: Não quero +, vou joga-lo no lixo se não quiseres. Duvidando da minha verdade ela continuou negando. Tentei + 1 ou 2 vezes e ...com aquele sentimento de desperdício, soltei-o  no lixo. No ímpetos da loucura, lembro dela correndo aos gritos na busca e salvação dele. Com alegria, sabores e boas memórias, o abacate cumpriu sua missão. 


E ficou a lição!


Quando gostamos muito de uma outra pessoa, muitas vezes abdicamos de nossas próprias vontades para agradá-las, na maioria das vezes são inócuas tais atitudes.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

100 anos de solidão

Um navegante brasileiro que acompanhou Maria na sua  primeira viagem à Grécia, ao passar pelas águas do Mediterrâneo escreveu uma crônica rigorosa, que, no entanto, parece uma aventura da imaginação. Contou que havia visto deusas e deuses mitológicos; e águas profundas com seres subterrâneos, com bailes nas terras do Olimpo, e outros em jantares deliciosos. Contou que puseram um espelho na frente do primeiro índio que entraram lá, era ele no caso, codinome Bugre; e que aquele gigante ensandecido perdeu o uso da razão pelo pavor de sua própria imagem.

Este conto, no qual já se vislumbravam os germes de nossos romances de hoje, está longe de ser o testemunho mais assombroso da nossa realidade daqueles tempos. Os cronistas das índias nos legaram outros, incontáveis. O Brazil, nosso país ilusório tão cobiçado, apareceu em numerosos mapas da fome e tortura durante longos anos, mudando de lugar e de forma de acordo com a fantasia dos biógrafos. Quem conta um conto, aumenta 1 ponto. Na procura da fonte da Eterna Juventude, o mítico .....Pessoa... explorou…





 (...) Adaptação do livro 100 anos de solidão, de García Marques. 

quarta-feira, 8 de setembro de 2021

Intermitente

 

O limiar intermitente entre o ar que entra, oxigena o corpo e o sopro de partir. Um intermitente interminável. O simples pulsar que para. O parar por um segundo. O estar e não estar. O ficar e ir. O gritar e falar baixinho. A criatura que parte sem dizer nada. O nada que se transforma, transmuta, transcende, pula baixinho e canta. Um passarinho que bebe água, aninha-se, voa e revoa. Algumas palavras soltas que organizam-se num papel em branco, o relato do facto. O facto que já aconteceu e vai acontecer intermitentemente, até o fim do pensamento. A criatura que sobrevive. A criação que  transforma-se e se’cria.

sexta-feira, 26 de março de 2021

Ensaio sobre a Vida

 O que nos resta dessa Vida? O que vamos fazer com este monte de partículas que nos abarca? Quanto tempo ainda temos aqui nesta realidade? 


"O motivo da mudança vibracional não é outro senão fazer a humanidade perceber que a Vida é muito mais que dor e sofrimento"


Muito mais que sofrimento e dor. 


A Vida precisa ser mais. 


Bem +

 

Tem que ser! 


Resumir em sofrimento e dor para mim dói de mais. Não quero acreditar nisso e bem menos na morte como um fim. 


Vida eterna enquanto existir memória, razão e emoção.


Eternidade!


Com emoção a vida parece mais leve. 


Não achas? 


Tudo indica que estamos numa passagem pela terceira dimensão. E se olhassemos a Vida como um mochinho com três pés (3D)? 4 pés? Bancos com 5 pés ou pilares. Li em algum lugar na rede sobre a sexta dimensão. Falam em oitava, nona, décima, décima primeira, décima segunda, décima terceira, décima sétima e quinquagésima  dimensão (PSol). 



Piração é na enésima dimensão com os infinitos possíveis. 


Viver no infinito!


Dimensionar a palavra Vida 3D como um tripé, com três pilares ou palavras.


Pés na realidade agora.


Se pensarmos a Vida como um banco de três pés e colocarmos nomes nos pés, quais nomes teriam os pés do banco chamado Vida?


Espero que tu não escrevas dois terços das palavras que definem a Vida usando aquelas duas citadas anteriormente 

(dor e sofrimento). 


Espero que não!


Eu pensando aqui com meus botões resumo momentaneamente assim:


Vida= Eternidade + amor + água. 


E pronto!


Eis ai uma baita definição de Vida. 


Não sei muito sobre a Vida, entretanto, tudo indica que, se ainda estou vivo, que seja para aprender +. 


E que assim seja!

sexta-feira, 16 de junho de 2017

Como assim?



Entre morros e vento norte que norteiam e criam histórias que recriam a nossa realidade, surgem em nossa época, construções de um mundo oco, vazio e tão superficial que pode ser desconstruído na primeira ventania. Movido por textos falaciosos, retóricas românticas, aventureiras, Clarices e tomates, velhos e novos, outrossim, atuais; Sim! Eis que surge a revolta. No absurdo de dizer nada e tudo ao mesmo tempo, comunicar o atual com frases bem estruturadas, palavras pomposas, elegantes e bonitinhas – talvez – trago a tona, uma séria irritabilidade com o fato de que a realidade seja um construto social. Ao pensar na Nova Esquerda que criou uma “subcultura acadêmica auto-perpetuante que tipicamente ignora críticas racionais de fora”, me remete ao caso Sokal.
No artigo publicado na edição de Verão/Outono de 1996 (anexo 2) no jornal pós-moderno Social Text, intitulado “Transgredindo as Fronteiras: Rumo a uma Hermenêutica Transformativa da Gravidade Quântica”, um artigo com 109 notas de rodapé q combinam termos acadêmicos com retórica sociopolítica (doze páginas com referências bibliográficas), propõe que a gravidade quântica tem implicações políticas progressivas, e que o campo morfogenético é uma teoria inovadora da gravidade quântica. O notável professor de Física da Universidade de Nova Iorque, Alan Sokal, declarou que “está tornando crescentemente aparente que a realidade física é fundamentalmente “uma construção social e lingüística”. Afirmou também que, porque a pesquisa científica é “inerentemente carregada de teorias e autorreferencial”, ela “não pode afirmar um status epistemológico privilegiado com narrativas contra-hegemônicas emanadas de comunidades dissidentes ou marginalizadas” e que, portanto, uma “ciência libertadora” fornece poderoso suporte intelectual para o projeto político progressivo.
O artigo foi uma farsa criada, de acordo com Sokal, para ver se realmente “um jornal bastante renomado de estudos culturais publicaria um artigo sem sentido algum apenas se a sua introdução soasse como boa, testando, também, os preconceitos ideológicos dos editores”.  Sokal afirmou que se os editores fossem intelectualmente competentes, teriam reconhecido logo no primeiro parágrafo que a tese era, na verdade, uma paródia. O físico disse q ele foi “ convencido de que havia um declínio aparente nos graus de rigor científico em certos setores de ciências humanas acadêmicas nos Estados Unidos”. O hoax ou a farsa, foi a sua forma de chamar atenção para isso. Além de tudo isso, veja algumas palavras ditas pelo mesmo:
“ Através deste artigo, emprego conceitos matemáticos e científicos de maneiras que poucos cientistas e matemáticos poderiam levar a sério. Por exemplo, eu sugiro que o “campo morfogenético” –uma ideia bizarra da Nova Era que surgiu com Rupert Sheldrake – constitiu uma vanguarda para a teoria da gravidade quântica. Essa conexão é invenção pura, mesmo que Sheldrake não faça tais alegações. Eu afirmo que as especulações psicanalíticas de Lacan foram confirmadas por um trabalho recente no campo da teoria quântica. Até mesmo leitores leigos reconheceriam  que o que eu falei não faz sentido algum. Em suma, eu escrevi intencionalmente esse artigo de forma que qualquer físico ou matemático competente iria perceber que era besteira. Evidentemente, os editores do Social Text se sentiram confortáveis pela publicação de um artigo de física quântica sem consultar ninguém que conhecesse o assunto.”
Acima de tudo, no entanto, a farsa de Sokal demonstra como estamos dispostos a sermos enganados por assuntos que acreditamos firmemente. Temos mais tendências de sermos críticos em relação a artigos que atacam a nossa posição, mas sucumbimos aqueles que a apóiam. Há um termo específico para isso, viés de confirmação, e atinge tanto os cientistas sociais e de humanidades quanto os de exatas e da natureza.


(Anexo 1) http://claudemirpereira.com.br/2015/03/uma-rara-e-emocionante-experiencia-em-walachai-por-jorge-cunha/#ixzz3iyuJn9GY

(Anexo 2) http://www.physics.nyu.edu/sokal/transgress_v2_noafterword.pdf


            

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Crônica de Fernando Sabino.

A arte brasileira da conversa não é de fácil aprendizado. Como toda arte, exige antes de mais nada uma verdadeira vocação. E essa vocação se aprimora ao longo do caminho que vai da inocência à experiência. Como em toda arte. Para princípio de conversa, distinga-se: quando falo em conversa, não estou me referindo à lábia, à astúcia, à solércia do brasileiro no passar a bicaria e vender o seu peixe. Falo precisamente no bate-papo, erigido numa das mais requintadas instituições nacionais. Mas por que arte brasileira? Os outros povos acaso não batem papo?
A própria expressão, brasileiríssima, corresponde em inglês exatamente ao verbo “to chat”, na acepção que lhe dá o dicionário: “to converse in an easy or gossipy manner; talk familiarly”. Até os ingleses, meu Deus, os ingleses têm também o seu papo: um deles, na mesa do bar, olha para fora e diz que vai chover; meia hora depois outro diz que não vai chover; meia hora depois o terceiro se retira dizendo que não gosta de discussão. A falta de graça desta velha anedota não está em ser velha, mas na finalidade útil que fez michar o papo. Este não deve ter finalidade alguma, senão a de matar o tempo da melhor maneira possível. É coisa de latino em geral e de brasileiro em particular: fazer da conversa não um meio, mas um fim em si mesmo. Se não me engano, essa é a distância que separa a ciência da arte.
No papo bem batido, a discussão não passa de uma motivação, sem intuito de convencer ninguém, nem de provar que se tem razão. Os que nela se envolvem devem estar sempre prontos a reconhecer, no íntimo, que poderiam muito bem passar a defender o ponto de vista oposto, desde que os que o defendem fizessem o mesmo. Os temas devem ser de uma apaixonante gratuidade, a ponto de permitir que, no desenrolar da conversa, de súbito ninguém mais saiba o que se está discutindo. Mesmo nas eternas discussões sobre mulher, religião ou futebol, para que se constituam em bate-papo, longas digressões hão de ser admitidas, desde que pertinentes. Esta última observação, aliás, é pertinente ela própria, já que falei em futebol, quando se trata de papo acalorado como o que batiam aqueles dois amigos, parados numa esquina, violando o silêncio da rua adormecida:
— Se o último jogo do Campeonato fosse do Botafogo contra o Fluminense…
— Ora, Alfredo, pra cima de mim! Ia ser de goleada.
— Você não me deixou terminar, Dagoberto. Eu queria dizer que o Botafogo…
— Que Botafogo que nada! Com o Vasco diziam a mesma coisa…
— Dagoberto, você não me deixa falar!
— … e no entanto ele acabou entrando bem. Essa não, Alfredo.
— Não estou falando no Vasco. Eu disse que o Botafogo…
— E no ano passado, que foi que o Botafogo fez? Me diga só o que ele fez.
— Você não me deixa falar, Dagoberto.
— Desde o princípio todo mundo sabia que o Fluminense…
— Você não me deixa falar!
A essa altura abriu-se uma janela no edifício da esquina e surgiu um indivíduo estremunhado:
— Ô Dagoberto! Deixa o Alfredo falar!
A boa conversa implica sempre em deixar o Alfredo falar. Além disso a discussão, ainda que gratuita, pode exaurir o papo diante de uma impossível opção, como a de saber qual é o melhor, Tolstoi ou Dostoievski, Corcel ou Opala, Caetano ou Chico. A menos que ocorra ao discutidor o recurso daquele outro, hábil em conduzir o papo, que teve de se calar quando, no melhor de sua argumentação sobre energia atômica, soube que estava discutindo com um professor de física nuclear:
— Você é presidencialista ou parlamentarista?
— Presidencialista.
— Pois eu sou parlamentarista.
E recomeçaram a discutir.
Mais ardente praticante do que estes, só mesmo o que um dia se intrometeu na nossa roda, interrompendo animadíssima conversa:
— Posso dar minha opinião?
Todos se calaram para ouvi-lo. E ele, muito sério:
— Qual é o assunto?
Mas percebo que me perdi em discussões, polêmicas, argumentos e desaguisados, afastando-me do verdadeiro espírito que deve presidir o culto dessa arte. De preferência, que ela seja praticada apenas a dois — como diz o mineiro, conversa de mais de dois é comício. E entre estes dois, bom será que reine amável concordância, para que, alternadamente ouvindo e falando, possam ambos conjugar o delicioso verbo discretear.

quinta-feira, 31 de março de 2011

DIVAGAÇÕES

Vindas do ócio criativo, vulgo: OCA DO ÍNDIO





Com...

http://mallarosa.blogspot.com/2011/03/faz-tempo-que-nao-venho-aqui.html













Nessas idas e vindas de Maria Tereza, vulgo TTzinha, que forma e reforma suas voltas, como aférese de ainda ou indas, retorna a sua escrita latejante, com um sopro de vento anunciando mais uma estação. A pomba enamorada volta ao ninho, pinta paredes na concretude de uma espreita atalaiada de um redundante vigiar de pensamentos relativos. Nesse relativismo tangenciado em absurdos esquisofrênicos dessa contemporaneidade de idéias, TT simplesmente abanca-se numa admiração de um largo lago profundo, escuro iluminado por talvez um não-sei-o-quê. Como diz aquele amarelo bem mentiroso de Suassuna, “só sei que foi assim”. O lago era escuro iluminado.

E o contemplar continua... Com sonhos possíveis de ver estrelas durante o dia, com a epifania de criar águas não molhadas emergidas na imersão de seu próprio corpo, de aclamar aos amores suntuosos e faustuosos de algo explendoroso que é o simples contemplar.

O contemplar, meticuloso, transcendental e metamórfico de um simples fechar e abrir das pálpebras da imaginação que, cria, recria e transfere para mim, o inóbvio de um novo dia. E a despedida é inevitável... Com direito a um ponto final (.)



SANTA MARIA no último dia de março, fechando o verão de 2011.